sábado, 16 de maio de 2009

Os pátios da vida

Estive hoje num lugar bem familiar, semelhante ao que já estive por muito tempo.
Logo na chegada, cartazes divulgavam a "Tarde Legal" ...tem sorvetes e pastéis, tudo a apenas um real.

Quem tinha dinheiro pegava a fila, comprava sorvete, pastel, depois corria para o pátio, onde continuava a correria. Quem não tinha... não tinha motivo pra parar.

Crianças gritavam, corriam e... gritavam e corriam. Na verdade, agora que corro e grito bem menos, nem me lembro mais porque corríamos e gritávamos tanto. Sei que todos nós (ou a esmagadora maioria) também correu e gritou muito um dia.

Ao lado de uma mesa enfeitada com modestas plantas, de flores pontiagudas e avermelhadas,
estava a diretora ao microfone, também gritando... pedindo atenção. Não demorou muito e ela parou de gritar e começou a falar em tom solene, somente para quem queria ouvir.

Mas até quem queria ouvir se dispersava e olhava para os lados, em meio a tantos ruídos e movimentos. É uma constatação científica: temos tendência a observar mais o que está em movimento, do que aquilo que está parado. Esse regra nem está acima da lógica, é fácil explicar.

Mesmo que o imobilismo tenha a capacidade de oferecer uma representação mais fiel daquilo que se observa, é o movimento que queremos ver. Certamente, porque nossos olhos se sentem tentados a vencer a barreira do "além estático", e proporcionar ao cérebro a experiência que sempre pode surpreender, a partir do próximo movimento.

Eu também tentei me concentrar na simpática senhora, de voz suave, sorriso afetuoso e quase suplicante... mas não censurei minha mente, quando os olhos se distrairam. Passaram pela quadra, onde se corre para vencer, e pelo parquinho, onde se corre para disputar o brinquedo mais interessante.

Por longos minutos, meu olhar fitou aqueles que corriam sem destino. Mesmo com a aparente falta de destino, correr sempre nos faz chegar a algum lugar. Leva a pátios bem maiores, encantadores, apesar das muitas quedas e gritos de dor.
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