quinta-feira, 16 de julho de 2009

O submundo da prostituição - 1ª Parte

Impossível dizer que não havia nenhuma ansiedade, quando saímos do jornal. Apesar de alguma experiência, era uma pauta que exigia uma certa malícia, para uma viagem ao mundo desconhecido e repleto de meandros. Precisávamos explorá-la sem vulgaridade ou falso pudor.

Eu, ligeiramente tenso. Ricardo Shimizu, o fotógrafo, totalmente desconfortável. Decidimos que eu deveria dirigir (segundo ele, é sempre o motorista quem aborda). Tudo bem, não discutimos, saímos a caça dos personagens que contariam a realidade da prostituição nas ruas de Marília.

A esperança era encontrar "Gisele", prostituta simpática, de seios fartos, figurinha fácil na rua Quatro de Abril. A conhecia de vista, por ela trabalhar perto de um jornal. Sabia que não teríamos problemas. Talvez ela até curtisse a idéia de contar histórias sobre a difícil "vida fácil".

Mas, rondamos a Quatro e, nada da Gisele! Alguns amigos disseram que ela esteve num posto de gasolina e encontrou um cliente, minutos antes da nossa chegada. A alternativa era a rua São Luiz, que nos últimos tempos recebeu potente iluminação, mas não conseguiu (sim, porque essa era a intenção), afastar as prostitutas que insistem em ocupar as esquinas.

Ao passarmos pela rua do comércio vejo uma garota de programa negra de microsaia, cabelos alisados, sentada em frente a uma loja. Outra está quase empoleirada na janela de um carro, com um pedaço de pano que não lhe cobre o volumoso traseiro. Decidimos voltar e garantir a entrevista. Shimizu reclama que perdeu a foto, depois amaldiçoa a pauta. Eu caí na gargalhada.

Quando retornarmos, percebemos que a prostituta empoleirada na janela já havia partido, restou apenas uma. Paramos o carro mas... outro veículo ja está parado mais a frente. Não! Perdemos a "nossa" garota de programa! A esperança de resolver a pauta rapidamente se acaba.

Seguimos pela São Luiz até a Castro Alves, depois da rotatória, estamos em um dos principais endereços do baixo meretrício em Marília. Uma morena de aparentes cabelos longos caminha na calçada. Decidimos parar. Desconfiada, ela fica a uns dez metros do carro.

Enquanto Shimizu fala ao telefone com o o filho e explica (sem detalhes) porque está atrasado, eu aceno para nossa possível entrevistada. A moça vestida com uma minisaia preta se aproxima. Oi, tudo bem?, pergunto. Ela responde sim, mas com uma rouquidão que nos afasta imediatamente.

Algumas garagalhadas, superado o episódio do travesti, passamos por pequenos grupos nas esquinas. Há muitos homens e decidimos não parar, até que encontramos três mulheres em frente a uma oficina de caminhões. Paramos e uma delas se aproxima, com naturalidade.

Pergunto se ela está disponível. A mulher morena, de blusa cor-de-rosa e jaqueta branca, diz que sim. Ela aparenta uns 27 anos e tem um perfume excessivamente adocicado. Os cabelos estão molhados. Estava evidente que havia acabado de chegar para mais um noite nas ruas.

Pergunto quanto custa o programa. Sem rodeios, ela diz: completo é R$30. Pergunto o que inclui "o completo" e ela avisa que não faz sexo anal. Proponho um desconto para dois e a garota negocia. Pede R$ 50. Insisto no desconto e ela encerra, dizendo que não pode fazer por menos.

Quero saber onde os programas acontecem. A garota diz que podem ser num drive-in próximo, ou num hotel do centro. Completa dizendo que no drive-in seria melhor, porque poderíamos entrar sem chamar a atenção e não haveria cobrança adicional, por se tratar de três pessoas.

Não dava mais para enrolar, antes que ela se irritasse com o cliente, abri o jogo. Revelei que era jornalista e estava interessado em conversar com uma garota de programa, para conhecer mais o mundo das ruas. A menina sorri, com certo desapontamento. Afirma que não pode sair dalí. Insisto que não precisava sair, eu poderia parar e conversar por apenas 10 minutos.

A garota tenta encerrar, dizendo que precisa trabalhar e não pode perder tempo. Uso o artifício da entrevista involuntária e disparo uma série de perguntas. Ela me conta que os programas são rápidos, em média duram 15 minutos.

Afirma que ganha cerca de R$ 180 por noite e se prostitui por necessidade. Pergunto se é perigoso e a garota diz que um vigia de moto (segundo ela, de uma empresa) é amigo e ajuda com a segurança. As respostas passam a ser mais secas. O número de rapazes, que dão voltas pelo quarteirão de bicicleta, mostra que a segurança, ou a insegurraça, é uma questão de escolhas.

Escolhemos recuar.

CONTINUA...
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4 comentários:

  1. Estou anciosa pela segunda parte!! rs

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  2. ops! asiosa! haha sorry

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  3. InTeRESsAnTEe!!!..Vc DeVi PaSsaR Por caDa UmA!! leGaL!!
    UAHSUAHSUHAUSH..

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  4. Gostei Golinha,pelo que te conheço a segunda parte vai ser um show !!!!!!!!!!!!!!

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